6 de novembro de 2023

Domingos

Ela partiu meu coração em mil pedaços com apenas uma frase.

Eu ri sem humor, esperando que a mulher desolada à minha frente estivesse fazendo uma piada de mau gosto. Afinal, como uma informação dessas vem a tona tanto tempo depois sem um spoiler sequer? Não fez sentido. Ainda não faz.

A cozinha desapareceu da minha frente. Minha visão ficou turva, não pelas lágrimas, mas pela enxurrada de memórias sendo destruídas, uma a uma. 

Tudo em mim gritou para ela parar de falar, mas nada saiu pela minha boca. Fui incapaz de verbalizar todos os meus sentimentos confusos e nem sei se algum dia conseguirei.

Eu quis desaparecer. 

Queria que ela entendesse o meu pedido de silêncio e parasse de repetir tantas vezes que Deus soube o que fez. Deus não sabe de porra nenhuma. 

Tudo que eu idealizei por anos foi construído em cima de uma mentira. Meu herói foi reduzido a migalhas numa manhã de domingo assustadora. E eu nem sei o que pensar ou sentir.

Medo? Vergonha? Raiva? Nada faz sentido. Me perdi nas emoções.

A única coisa que pude entender é que estou revivendo um luto que pensava ter superado. A dor veio com tudo e parece que o perdi ontem. Não consigo parar de repassar todas as memórias e entender em qual parte essa informação maldita se encaixa. 

Queria desligar meu cérebro e parar de pensar. Queria que ela parasse de falar comigo e me deixasse recolher os caquinhos em paz. 

]Não consigo deixar de perguntar porquê eu fui escolhida para receber esse peso. Eu já não sofri o suficiente? Por quê esse outro fardo veio para as minhas costas? Eu não o quero. Esse não!

Só esse. Eu imploro para esse não vir pra mim. 

Tarde demais. Já está aqui e eu não consigo respirar. 

Tudo dói. 

Essa ferida foi funda demais. Não sei como cicatrizar.


11 de abril de 2023

Dia 3: O que te deixa triste, ou negativa

Essa é fácil. Eu fui criada na periferia de São Paulo e cresci correndo na rua, brincando de todas as brincadeiras possíveis. Foi uma infância feliz, apesar de ouvir histórias sobre a pobreza, violência e desinteresse do governo pela nossa região. Esses problemas não me afetaram diretamente porque tive a sorte de crescer em um lar estruturado que, apesar das dificuldades, sempre fechou o mês com comida na mesa e crianças na escola. 

Já adulta, consegui cursar uma faculdade, ingressar no mercado de trabalho com um bom salário e, aos poucos, crescer na carreira. Mudei para o que chamamos de “depois da ponte” e finalmente conheci a qualidade de vida que um bom bairro pode proporcionar. 

Parece uma história feliz, você deve estar pensando. De fato é. Mas, toda moeda tem seus dois lados. 

Para mim, a coisa que mais me entristece é perceber como as famílias do extremo sul de São Paulo são negligenciadas. Dói muito perceber que a mesma sorte que eu tive não recaiu sobre as pessoas que cresceram comigo e que um salário mínimo não é suficiente para pagar todas as contas no fim do mês.

Dói ainda mais parar o carro no farol e ver uma criança, que poderia ter sido minha vizinha, pedindo um trocado debaixo do sol quente. Sinto culpa por estar no carro e sinto vergonha de evoluir sabendo que tantas outras pessoas estão em situações tão desumanas. 

É curioso como a revolta supera o sentimento de gratidão. Eu poderia discorrer por mais cinquenta páginas sobre a dor que a desigualdade social me traz, mas isso não nos levaria a lugar nenhum. Prefiro encerrar por aqui e manter a esperança de que um dia as coisas mudem para melhor. Tomara.


5 de abril de 2023

Dia 2: Algo que te contaram e você nunca esqueceu

Certa vez, num domingo cinza de primavera, aconteceu um churrasco na casa da minha mãe. Não é novidade esses eventos acontecem até hoje. Este dia, especificamente, ficou gravado na minha memória. Não pela diversão ou comida. Mas pela história que um homem me contou.

Deixa eu te ambientar brevemente: o quintal tinha um ar esverdeado, do tipo que recebeu muita chuva nos últimos dias. O cheiro era de terra molhada, apesar de não ter caído uma gota do céu. As pessoas já estavam se recolhendo, satisfeitas e se preparando para a semana. A música estava melancólica, com trilhas antigas levando o resto do domingo embora. 

Foi neste momento que o homem, já alterado pela cerveja, me perguntou se eu sabia o que era o horizonte. Eu, no auge dos 5 anos de idade, não sabia. Ele, com toda a calma do mundo, explicou: “Sabe quando os olhos não alcançam o fim do mar? Aquela reta lá no fundo? Aquilo é o horizonte.”

Nunca me esqueci do significado dessa palavra. Nem do homem que me explicou. Nem da música que tocava. 

O homem era meu pai. E ele morreu numa manhã cinzenta no mesmo horizonte do mar da minha imaginação.


14 de fevereiro de 2023

Dia 1: 10 coisas que te deixam feliz

1. Viajar para Ilha Comprida

Desde criança, tenho o privilégio de viajar para a casa do meu avô, na Ilha Comprida, sempre que posso. Em dias de colocar o pé na estrada, não me incomoda ter que acordar antes do sol ou fazer xixi três vezes antes de sair de casa. Amo principalmente as playlists para ouvir enquanto as paisagens urbanas são substituídas pelo ar interiorano. Atravessar a ponte de Iguape para finalmente chegar na Ilha é a sensação mais gostosa do mundo. Só perde para os fins de tarde com o cabelo molhado de mar enquanto espero minha vez de tomar banho rindo das palhaçadas da minha irmã. Que coisa boa poder passar um tempo com quem você ama em um lugar aconchegante.

2. Dias cinzas

Não me leve a mal. Eu amo dias ensolarados e suas infinitas possiblidades. Mas, não tem coisa mais gostosa do que um dia típico londrino. O ar de filmes de drama me dão um profundo aconchego, principalmente quando não tenho compromissos. São em momentos assim que gosto de comer algo quentinho, assistir filmes ou séries com um cobertor, me dedicar à leitura de um livro bom e, principalmente, aproveitar minha própria companhia. Dias cinzas são importantes para renovar nossas inspirações. Mas, poucas pessoas estão preparadas para essa conversa, e eu entendo.

3. Tardes de maio na casa da minha mãe

Tudo bem, poucas coisas na vida são tão gostosas como tomar um café quentinho e fofocar com a minha mãe e minha irmã nas tardes frias de maio. É a coisa que sinto mais falta de morar com elas. A sensação de pertencimento enchem meu coração e mal posso esperar pelo próximo encontro. O pôr do sol costuma encher a cozinha com uma luz dourada encantadora enquanto o cheirinho de pão assando com café passado esquentam qualquer friagem. 

4. A rotina do nosso apartamento

Entendo que muitas pessoas não gostam da rotina. Eu amo. Principalmente a constância do meu lar. Os dias são leves e nossos gatos nos divertem mais do que as séries que insistimos em assistir juntos, mesmo brigando para decidir os horários. O riso é frouxo, as conversas fluem e tenho vontade de deixar uma câmera gravando nossos dias, só para mostrar ao mundo que é sim possível ser feliz compartilhando o lar com um amor. Nem sempre nos entendemos, mas as piadas e as músicas são o contrapeso ideal dos conflitos pela louça suja. Cada dia é especial no nosso apartamento. E isso me faz feliz.

5. Churrascos com a família

Seja com a casa cheia das pessoas mais especiais da minha vida ou só um trio de mulheres fofoqueiras, os dias de churrasco na casa da minha mãe com certeza merecem um lugar especial nessa lista. São em datas assim que colocamos todas as histórias em dia, ouvimos as mesmas músicas de sempre e fazemos planos para os próximos feriados. São nessas datas que discutimos problemas, gritamos palavrões, entornamos cervejas e damos risada até o fim da tarde. Em alguns desses dias, relembramos o pai e mantemos sua memória sempre presente. Apesar da saudade, esses momentos nos unem.

6. Algumas futilidades 

Nem só de momentos em família consistem a minha felicidade. Existem coisas que ativam mais serotonina do que uma barra de chocolate, como fazer as unhas no salão, uma aula de natação, estar com os cílios e sobrancelhas em dia ou uma simples depilação. Essas pequenas coisas passaram a fazer parte da minha rotina quando comecei a me amar mais. Não posso dizer que superei todas as inseguranças, mas o autocuidado me ajudou a entender que não preciso estar magra para me sentir bonita. E isso é a mais fútil sensação de felicidade.

7. Fotografias

Seja tirar, posar ou olhar fotos antigas, a fotografia tem um significado especial para mim. São através delas que revivo momentos que poderiam ter sido engolidos pelo tempo. É por esse motivo que você sempre vai me ver com o celular apontado discretamente para alguma situação em rolês ou enchendo o saco para tirar uma foto em grupo. Parar um tempo para olhar fotos antigas é, com certeza uma felicidade genuína, mesmo com a melancolia causada pela nostalgia.

8. Planejar e executar 

Uma das coisas que minha mente ociosa mais gosta de fazer é planejar coisas. Sejam elas ideias grandiosas ou apenas uma grande faxina no guarda-roupas, sempre ativam meu lado maníaca e empolgada com as possibilidades. Estar parada não é uma opção. Planejar os próximos passos da minha vida me motivam a levantar da cama pela manhã e isso pode ser muito bom ou muito ruim. Por isso, para estar nesta lista, fiz questão de salientar que fazer planos não bastam. Quando eu finalmente consigo executar uma ideia, sinto tanta felicidade que poderia facilmente correr uma maratona. Nada me dá mais alegria do que ver uma lista com ‘checks’ em todas as tarefas.

9. Andar de bicicleta

Apesar de não conseguir manter uma constância, os passeios de bicicleta pelo bairro nunca me causam arrependimento. O vento no rosto, a velocidade, as paisagens e conhecer novas ruas me fascinam. Esse é um item de felicidade que está presente desde a infância, quando meu pai me ensinou a dar as primeiras pedaladas sem as rodinhas e pude experimentar a liberdade. Desde então, já pedalei quilômetros na Ilha e por aqui, no bairro de Veleiros às margens da represa. 

10. Ler e escrever

Por último, mas não menos importante, me dedicar a leitura de um bom livro faz com que eu me desconecte de qualquer realidade para viver uma história que não é minha. Ler sempre me inspira a fazer outra coisa que ativa uma grande felicidade no meu cérebro: escrever. Concluir um conto bem escrito, reler e sentir orgulho merece com absoluta certeza estar nesta lista. Nem sempre o conteúdo sai perfeito. Na verdade, quase sempre encontro defeitos que preciso me conter para não corrigir. Mas, reconheço que a escrita é um dom, assim como desenhar, tocar instrumentos, cozinhar ou cuidar do jardim. Esse é o meu dom e, mesmo que não seja bem-feito, está aqui.

 

3 de fevereiro de 2023

A rotina do anoitecer

Um dia desses me perguntaram qual é o meu momento preferido do dia. Pega desprevenida, não soube responder imediatamente. Afinal, os dias são intermináveis rotinas vividas no modo automático. 

O questionamento me trouxe a reflexão de olhar com carinho os meus movimentos diários e prestar atenção nas coisas simples. Algumas semanas depois desta mudança, percebi que a minha ansiedade não estava tão aflorada como de costume. 

Antes de me perder nas palavras, trago-me de volta ao foco: ontem, por volta das 18h e envolta em pensamentos, fiz o caminho do ponto de ônibus até em casa e reparei pela primeira em uma realidade que sempre esteve ali. O cheiro da janta sendo preparada nas casas, as pessoas passeando com seus cachorros, o som do telejornal da noite e, é claro, das crianças retornando para seus lares depois da escola. 

Elas, ao contrário de mim, não prestavam atenção aos detalhes. Estavam preocupadas em falar alto sobre o dia com os colegas, chutar bolinhas de papel, brincar e sorrir. Todas naquela saudosa energia de deixar escola barulhenta e começar a rotina da noite. 

Me lembrei de voltar do colégio ansiosa para contar todos os detalhes da aula para minha mãe que, a essa hora, estava preocupada em não deixar o arroz queimar e garantir que os filhos tomassem banho antes de deitar no sofá. 

Era uma alegria saber que a janta seria frango frito. Alegria maior era saber que o dia seguinte seria feriado ou fim de semana. A recompensa por comer toda a comida do prato era poder brincar no computador antes de ir dormir. 

Perdida nas lembranças, me encontrei sorrindo, mesmo depois de um dia longo no trabalho. Ah, a infância...  

6 de janeiro de 2023

Uma carta de amor

Certo dia, fui convidada para o aniversário de alguém em um sítio qualquer cheio de jovens bêbados. Topei, obviamente. Foi nesse sítio que notei pela primeira vez um garoto com o sorriso mais lindo que já vi na vida. Ele carregava uma JBL barulhenta em uma mão e na outra uma latinha de Budweiser.

Uma semana depois, dávamos nosso primeiro beijo. Tudo encaixou. O toque, os lábios, os pelos. 

Que sorte a minha ter topado aquele sítio.

Alguns anos depois, eu e aquele garoto - hoje um homem - aceitamos compartilhar a vida. Criamos laços, gatos e dividimos contas. Nossas risadas compensam a tensão da rotina e a felicidade transforma em garoa qualquer tempestade.

Eu amo suas risadas. Amo a forma como seus olhos gentis se espremem durante uma gargalhada causada por um dos nossos gatos. Amo brigar por quem vai lavar a louça ou estender a roupa. Amo brigar com você sobre as meias espalhadas pela casa. Amo passar horas escolhendo uma comida no Ifood ou um filme para assistir. No final, sempre dormimos no começo ou escolhemos um miojo com nuggets. Eu amo a nossa vida.

Acho importante escrever sobre as fases boas também, né? E hoje, depois de um longo dia de dores, pude experimentar, novamente, uma bela dose de amor. 

Parafraseando o Edward Cullen, nenhum espaço de tempo com você seria suficiente... comecemos com o para sempre. 

Obrigada por tanto.

Com carinho,

B.

23 de setembro de 2022

Relatos de uma quase ansiedade

Minhas costas doem e meus olhos tremem.

Não de velhice, pelo menos espero que não. Mas de exaustão. 

Tenho preferido gastar meu tempo livre com coisas fúteis, para não precisar lidar com ainda mais pensamentos. Minha missão atual é fechar minha mente por tempo indeterminado. Só para conseguir respirar aliviada, em paz.

Não quero pensar em trabalho.

Não quero pensar em fugir para o meu intercâmbio.

Não quero pensar em andar de bicicleta no domingo de manhã.

Não quero pensar na montanha de roupas para lavar.

Não quero pensar no chão precisando ser varrido.

Não quero pensar que amanhã tem festa.

Não quero pensar que meu avô está ficando cada vez mais velho e preciso passar mais tempo com ele.

Não quero pensar que não estou acompanhando o crescimento do meu sobrinho.

Não quero pensar que estou perdendo risadas incríveis com a minha mãe.

Não quero pensar que preciso dar atenção aos meus amigos.

Não quero pensar nos motivos do meu namorado não falar comigo.

Não quero pensar que a qualquer momento posso receber a mensagem que a minha irmã se matou.

Não quero pensar.

Mas, cá estamos. Pensando em tudo e sem conseguir lidar com nada. 

Vivendo, dia após dia, sem de fato viver.


12 de março de 2022

Você por você e eu por nós

Hoje foi a primeira vez que chorei por você.

Foi a primeira vez que chorei por um motivo como este, na verdade.

É um novo jeito de mágoa. Uma mágoa que faz com que eu me sinta estúpida, diminuída e desvalorizada. Fez com que eu repensasse tudo que fiz, faço e tinha planos de fazer por nós.

Odeio me sentir burra por ser generosa e querer compartilhar o mundo com você. Enquanto você, faz planos para ter um mundo todinho seu. Eu que conquiste o meu sozinha, certo?

Cada um por si.

O casal que somos, serve apenas para sexo. Pensei em acrescentar os passeios e a vida a dois dentro de casa. Mas isso não entra na sua equação como costumava entrar na minha.

Eu por nós e você por si.

Até a gasolina eu preciso pensar em dividir. Tudo bem. Sempre corri atrás do meu. Nem por um segundo sequer pensei em me acomodar e viver de você. NUNCA. Minha mãe me ensinou a ser independente e, graças a Deus, essa foi uma lição que aprendi desde cedo.

Então, não pense que minha mágoa é por achar que poderia ficar sob suas finanças. Não! Minha mágoa é por saber que você, vendo toda minha luta, ainda insiste em ser cada um por si. 

Melhor assim. Pelo menos, percebi com bastante antecedência que não vou ter uma casinha tão cedo e não preciso me preocupar em procurar o melhor negócio. 

Percebi que um casamento não está nem perto de acontecer.

Que um presente surpresa, fora de uma data comemorativa, nunca virá.

Que se eu quiser viajar, eu que me vire procurando, pagando e indo. Mesmo que sozinha.

Que é sempre necessário ter uma grana reservada caso algum incidente aconteça e eu precise pagar um conserto. 

Tudo isso porque “você nunca tem dinheiro”. 

Eu que lute suprindo minhas próprias expectativas e não espere NADA de novo do meu companheiro.

 Afinal, cada um por si.


5 de janeiro de 2021

Vinte e seis

Minha vida sempre foi regida sob ansiedade e planos para o futuro. Por ser criar metas e sonhos sobre quem eu queria ser, muitas vezes deixei de aproveitar o presente. Na verdade, arrisco dizer que não sei, de fato, viver no presente sem me preocupar com o que virá amanhã.

Evito beber demais com medo da ressaca. Não me permito gastar demais por saber que as contas do próximo mês serão altas. Nunca fiquei solteira por um longo período por insegurança de nunca encontrar alguém legal para dividir uma vida.

O ponto é que eu planejei cada passo até os 25 anos acreditando fielmente que nessa idade teria todas as coisas que sempre sonhei: o corpo lindo, cabelo incrível, carro novo, apartamento, emprego estável e um passaporte cheio de carimbos. Acontece que os 25 chegaram e se foram num piscar de olhos e estou às vésperas dos 26 sem ter riscado nada da lista.

Nunca pensei que chegaria até aqui. Não tenho planos ou sonhos para os próximos anos e ainda não decidi se isso é bom ou ruim.

Sei que o que conquistei até agora, é muito mais do que posso assimilar. De todos os devaneios até aqui, sinto que o que vivo hoje é onde deveria estar. Então, estou ansiosa para saber o que me espera pela frente.

Minha nova meta é criar planos anuais. No próximo ano, quando estiver com os pés nos 27, vou poder olhar para trás, entender o que pude realizar e agradecer com carinho tudo que vivi. 

Até lá, vou tentar viver um dia de cada vez, aproveitar minha própria companhia, reclamar menos e tentar ser a minha melhor versão.  

Que venha os 26!


2 de dezembro de 2020

Asleep

Foi, sem dúvidas, um dos momentos mais perturbadores da minha vida. Talvez tenha sido, de fato, o pior momento. 

Lembrar do meu desespero, choro e palavras atropeladas implorando para você não fazer isso comigo, hoje me parecem falas de um filme que odiei.

Eu fecho meus olhos e encontro os seus, perdidos e desnorteados. Implorando por ajuda. Me dizendo que desistiu, mas só por enquanto. Não importa o barulho que escute, meus ouvidos insistem em ouvir a maldita música que você escolheu como trilha sonora para acabar com a nossa vida.

Absolutamente todas as coisas me levam de volta para a sala de espera do hospital, quando finalmente tomei coragem para ler aquilo que você decidiu deixar como últimas palavras. Não importa onde eu esteja, não consigo conter a onda de pânico por pensar que seria tarde demais se eu não tivesse sido acordada e atraída até você.

Tenho vivido num eterno pesadelo, tendo certeza que a qualquer momento vou despertar de um sonho e me dar conta de que não consegui te salvar. De que minha mente criou uma ilusão para eu lidar com o luto e insuficiência por não ter podido te ajudar.

Eu te forçaria a vomitar um milhão de vezes sem me preocupar em me sujar. Eu sugaria toda a sua tristeza e confusão, para te salvar. Eu lutaria contra palhaços, aranhas, demônios, mil vezes para te ter viva. Eu percorreria o mundo inteiro para te amparar em momentos de crise.

Eu cruzaria o inferno por você. 


E mesmo assim, ainda sinto que não é o bastante. Ainda choro de soluçar quando imagino minha vida sem você aqui. 

4 de outubro de 2020

Você

 Hoje, depois que você foi embora, tive um dos choros mais sentidos da minha vida. Pela primeira vez, em muito tempo, não consegui abaixar o tom e me preocupar com os vizinhos. Não tive como chorar baixinho. Chorei alto, tentando vomitar a solidão que se enroscou dentro de mim, me impedindo de ter fome, sede ou sono.

Hoje, pela primeira vez em anos, esqueci quem eu sou, onde estou e quais minhas motivações. Caminhei pela casa sem rumo, busquei você em todos cômodos e sufoquei por não te encontrar. 

Você foi embora e levou um pedaço de mim junto. Um pedaço essencial que me impede de sorrir. 

Eu sei que deveria encontrar paz em mim mesma, saber lidar com a sua ausência, mas o fato é que não consigo. Te ver partindo todos os domingos, me faz morrer um pouquinho a cada semana. 

Eu amo você, mais do que um dia imaginei amar. Não vejo a hora de te ver chegando para ficar.

Seu lado da cama sempre estará quentinho, te esperando.

E sim, você estava certo sobre escrever. Sempre está.

8 de junho de 2020

Dica: Como Nossos Pais

Nesses tempos de quarentena, decidi explorar uma nova categoria no blog: dicas de entretenimento. 

Filme 'Como nossos pais' é destaque nas estreias da semana no ABC ...


Rolando o catálogo da Netflix, encontrei quase na última categoria de sugestões, um drama intitulado "Como Nossos Pais", fazendo referência à canção da Elis Regina (que sou fã). Cliquei despretensiosamente, li a sinopse muito bem escrita pelo Streaming e decidi dar play para ouvir enquanto checava as redes sociais. 
Logo na primeira cena, onde a família inteira se provoca com citações sobre a política atual do país, deixei o celular de lado para prestar atenção e fiquei presa no enredo do começo ao fim. 
Longe de mim fazer uma crítica profissional de cinema, mas até para uma pessoa leiga como eu, a fotografia, paleta de cores e atuação foram surpreendentes para um filme pouco divulgado.

A história gira em torno de Rosa (Maria Ribeiro), mãe, esposa, conteudista de uma marca de acessórios para banheiro e roteirista como hobbie que no auge de seus 38 anos descobre um segredo que irá mudar a forma com que enxerga a vida.
Com um casamento à beira do fracasso, uma péssima relação com sua mãe e estressada com a rotina de casa, Rosa decide explorar sua realidade enquanto mulher, se aprofundando cada vez mais no feminismo e auto-conhecimento. 

Em 'Como Nossos Pais', novo filme de Laís Bodanzky, revolução da ...

Além do núcleo principal ser feminino, o drama lançado em 2017 foi roteirizado e dirigido por mulheres, o que contribui com uma forma sensível de enxergar cada conflito abordado. 
A cena da personagem Clarice (Clarisse Abujamra) tocando a música "Como Nossos Pais" no piano é realmente comovente, nos fazendo refletir sobre a forma com que enxergamos nossas mães antes mesmo de identificá-las como mulheres.
A Maria Ribeiro ganhou o Grande Prêmio de Cinema Brasileiro de melhor atriz, assim como a Laís Bodanzky, como melhor diretora. 

Corre para conferir e me conta o que achou ;)

8 de abril de 2020

A gorda e a quarentena

Nas recentes semanas só se fala em isolamento social, quarentena e os efeitos dos dias confinados em casa. Para pessoas ativas, o exercício físico é um escape para eliminar a ansiedade e gastar energia. Mas e as que não curtem malhar?
Sempre fui gorda. Como consequência disso, cresci ouvindo piadas maldosas das pessoas que mais amo. Elas acreditam que está tudo bem e que as vezes, o "conselho" é para o meu bem. 
Apesar de ser uma das integrantes mais saudável da minha casa, ainda sou a referência para ser culpada quando o último pedaço de pizza some da geladeira. Dói ser apontada apenas por não ser igual aos outros, ou estar dentro de um padrão. 
Decidi castigar a mim mesma e fazer o tal do jejum intermitente por ter ouvido que minha barriga estava um pouquinho maior. Baixei os aplicativos, comprei limão, chia, tapioca, queijo branco e comecei. Estou atualmente enfrentando o terceiro dia e cara, é uma tortura. A fome faz doer o estômago e o cheiro das comidas ficam mais intensos. Mesmo com os litros de água, a sensação de vazio não passa.
Hoje minha mãe chegou em casa com bolachas, bombom, pão francês, frios e sucrilhos. Fez questão de gritar pela casa mesmo sabendo que estou me esforçando para ser um pouco menos repulsiva. Nem me dei ao trabalho de entrar na cozinha, mas ouvi ela brigando com a minha irmã magra que vai ficar doente por não ter comido arroz. Adendo: ela comeu normalmente durante o dia, mas a preocupação da minha mãe foi com a magreza de achar que ela ia ficar doente por não comer arroz.
E eu? Ela sabe do jejum. Sabe das limitações que me impus. Sabe do meu sofrimento. Ela não se importou em perguntar como estou ou demonstrou preocupação com a minha saúde.
Não obstante, gritou pela casa me acusando de ter comido todos os bombons da caixa. Logo eu, que nem sequer desci na cozinha. Minha irmã assumiu que foi ela, mas as desculpas não vieram. 
É tão mais fácil acusar a gorda de comer, não é mesmo? Gordo só fica doente por causa da gordura e colesterol. Gordo não tem anemia ou anorexia. Gordo morre de infarto por veia entupida, mas não por inanição ou suicídio.
É triste receber esse julgamento das pessoas que amo. Pior que isso, é não ser capaz de me amar do jeito que sou.

31 de janeiro de 2020

24 de janeiro de 2020

Beautiful Loser

Enfim chegou outra sexta-feira. Todos tem planos. Alguns se juntam para viajar, outros se reúnem com seus parceiros e ainda tem os que preferem beber enquanto estouram os tímpanos com músicas absurdamente altas. 
Mas não ela. 
Ela segue com o coração despedaçado, magoada, angustiada e só. Sempre só. Busca no fundo do peito um vestígio de animo para aceitar um convite para sair, mas simplesmente não consegue. Se vê cansada demais, feia demais, triste demais. Prefere poupar as pessoas de sua presença deprimente, mesmo mantendo a esperança de que a compreendam e permaneçam ao seu lado.
Apesar da confusão de pensamentos ruins, compreende que não é culpa de ninguém, senão sua. Talvez por isso se isole. Não para se proteger, mas para proteger quem ama. 
O sono que sentiu durante toda a semana simplesmente desaparece. O quarto parece pequeno e mais sufocante do que o normal. Nem mesmo os planos de viagens ou mudanças a alegram.
Dizem que vai melhorar, mas parece que não. A solidão não passa, nem se importa com os danos que causa. Tudo é dor. Tudo é aperto. Ela não consegue respirar e ninguém parece notar...

20 de janeiro de 2020

De novo eu

Não quero te assustar. Não quero assustar ninguém. Me mata saber que há pessoas que se preocupam comigo a ponto de fazer com que não possa ser honesta sobre o que estou sentindo, mas preciso falar.
Meu cansaço está tão forte que não consigo me equilibrar em pé. Me arrasto pelos lugares como num sonho e, mesmo quando durmo por horas, acordo exausta com a sensação de que poderia dormir para sempre. 
Olho no espelho e não gosto do que vejo. Minha aparência me enoja, faz com que eu queira me esconder no escuro, onde ninguém me veja. Nem mesmo eu.
Meus planos se dissipam no ar como névoa. Tento ver um futuro, mas não consigo. Acho que sou uma farsa, uma piada de mal gosto, um ser que não merece importância. 
Fecho meus olhos e a angustia me corrompe. 
Hoje eu chorei pela primeira vez desde o começo de tudo isso. Foi um choro pesado, aflito. Não aliviou. Talvez tenha piorado.
Abracei a mim mesma para fazer meu corpo parar com os espasmos e tapei minha boca com o punho para não deixar os ruídos saírem. Chorei como uma mãe que perde seu filho e me senti pior por achar que tenho esse direito. Esse sofrimento não é meu por direito. Há pessoas com motivos mais condizentes para chorar desta forma. Mas meu coração dói e não posso controlar.
Sinto que estou me afogando, sem ar e sem ninguém para me salvar. A solidão, a melancolia, a sensação de domingo a noite perduram por dias. Não há quem se importe o suficiente para ouvir, sentir, segurar minha mão.
Os que me amam, preferem se afastar. Eu também prefiro. Já acostumei a ser posta de lado. Drama? Necessidade de atenção? Talvez sim.
Quem sabe um dia melhore.

5 de outubro de 2019

Algumas coisas não se cobram

Há anos uma amiga já não tão próxima comentou sobre o que devemos cobrar ou não das pessoas que amamos. Tenho um senso de urgência em sempre estar disponível para todos os entes, perdoando facilmente quando me magoam e me preocupando com o bem estar de cada um. Acontece que nunca senti reciprocidade, e isso me corrói.
Tento diariamente priorizar minha saúde mental e mesmo que absolutamente ninguém esteja disponível para mim, busco me divertir comigo mesma. As vezes, da certo. Principalmente em dias frios onde não sinto necessidade de sair debaixo das minhas cobertas, tampouco socializar. Apenas uma maratona de série e alguns doces me satisfazem. Talvez por isso ame tanto o inverno.
Em dias quentes, vejo todos ao meu redor fazendo planos que não me incluem. É difícil não levar para o lado pessoal. De novo, não desisto e tento ser feliz sozinha, mas não consigo. Em minha cabeça, devo ser insuportável, afinal até a pior das pessoas tem ao menos um amigo para sentar na calçada e rir da vida. Enquanto eu, estou sempre sozinha com meus pensamentos tristes.
O aperto no coração é tão grande que as lágrimas correm sem que eu note. A solidão é um aperto na garganta que te impede de respirar, sabe?!
Tento não pensar, mas os terríveis questionamentos sobre "será que eu faria falta" me atormentam.

Meus finais de semana tem sido assim: às sextas, meu travesseiro é meu colo. Choro até dormir. Acordo três ou quatro vezes com os vizinhos se divertindo, deixo mais algumas lagrimas rolarem e finalmente adormeço com os olhos ardendo. 
Sábados costumam começar renovados, mas as redes sociais mostrando a felicidade alheia da noite anterior, me destroem. Como as pessoas conseguem ser tão felizes enquanto alguém está questionando sua existência no escuro do quarto? Cadê a empatia? Cadê as pessoas que dizem me amar?
E Então, o temido domingo. 
Domingos costumam ser entorpecentes. Passo por eles no mais completo automático, vagando pela casa com o estomago transbordando angústia, mas não há mais lágrimas ou forças para chorar. O dia se arrasta e a noite chega como uma fumaça sufocante e fria. Domingos são os piores dias porque cai a ficha de que ninguém se importa. Nunca. Jamais. E que você está boiando num mar cinza e completamente só. 

Têm sido dias difíceis...

27 de abril de 2019

O mundo é um moinho

Essa coisa de falar tudo que pensa e ser honesto sobre o que sente é lindo na teoria. Ser direto no que quer para que as pessoas não se deem ao trabalho de adivinhar é lindo, mas não funciona. Ao menos não comigo.
Se é para citar frases clichês, sou adepta da que diz que o silêncio é o melhor remédio. Se preciso de ajuda ou algo me incomoda, vou me afastar, me isolar e guardar minhas insatisfações para mim.
Acredito que quem se importa de verdade, vai refazer seus passos para entender onde me magoou ou vai pegar os meus sinais de pedido de ajuda. Quem me conhece suficientemente bem, vai sim se dar ao trabalho de tentar descobrir o que tem de errado, não aceitará o meu "estou bem" e fará de tudo para me fazer melhorar.
Entenda, tem coisas que não vão melhorar. Só que uma palavra de conforto, um abraço e um ombro para chorar é tudo que preciso para me sentir  acolhida e amada. Acho que a maior questão aqui é o individualismo e solidão.
Acontece que as pessoas não se importam. Todas as minhas lutas não são vistas e minhas dores passam despercebidas. E eu juro que estou tentando me virar sozinha e fazer tudo cicatrizar, mas a cada semana que passa, as feridas se abrem com ainda mais profundidade. Tudo é sempre tão melancólico e cansativo...

22 de março de 2019

Recomeçar

Antes de ser sua, eu fui de outras pessoas. Algumas por apenas alguns instantes, outras por tempo o suficiente para destruírem meu coração. Pouco a pouco fui deixando de acreditar e não percebi que estava me perdendo. Achava que relações rasas e sem compromisso eram o bastante para aplacar o vazio que sentia por dentro, sem notar que estava apenas mentindo para mim mesma e me afogando na escuridão. 
Curioso que durante todo esse período, dizia a mim mesma que era melhor assim. Sem complicações. Afinal, tantos relacionamentos fracassados não me deram a chance de aproveitar a vida. Era o que eu achava. E aí, você apareceu.
Você surgiu na minha vida como quem não quer nada. Devagar, despretensioso, cheio de inseguranças, assim como eu. Claro que não deixei você ver minha real essência. Talvez por medo ou vergonha, preferi me esconder atrás da aparência de indiferença e força. É a minha defesa, sabe?! Contudo, isso não te impediu de destruir as barreiras que lutei para levantar. Você arregaçou as mangas e foi tirando tijolo por tijolo, deixando todas as minhas feridas a mostra para que cicatrizassem de uma vez por todas.
E então, como uma brincadeira do destino, me vi em seu lugar, derrubando as suas barreiras, tentando fazer você acreditar que isso é real. Que nós somos reais. Vi a sua essência e me apaixonei instantaneamente. Por você. Por nós. E não importa o quanto me esforce, tudo o que eu quero no final do dia, é sentir seus dedos percorrendo a minha pele, deixando aquele rastro de calor e arrepios que me fazem perder o ar.
É engraçado como as coisas simplesmente acontecem. Assim, quando menos esperamos. Eu não esperava, não queria. E cá estou, indubitavelmente envolvida  e pela primeira vez em muito  tempo, feliz. 

5 de janeiro de 2019

Ninguém Em Casa

Já sentiu como se ninguém se importasse?
Como se sua existência não fizesse diferença?
Já se sentiu completamente sem esperança ou vontade de continuar?
Já sentiu seu corpo tão pesado e cansado mesmo depois de dormir por uma semana direto?
Já perguntou a si mesmo se sumisse, alguém o procuraria?
Já desacreditou do que as pessoas falam?
Já tentou se abrir e disseram que é drama?
Já se sentiu a pessoa mais horrível do mundo por sentir inveja de alguém?
Já experimentou a dor de saber que nunca será do jeito que sempre sonhou?
Já sofreu por ser fraco e se deixar levar pela opinião alheia? Já brigou internamente  para mudar e mesmo assim segue esperando o mínimo elogio ou declaração, mesmo que não vá acreditar?
Já se sentiu menor do que uma formiga? Mais invisível do que Deus? Mais dispensável do que um guardanapo sujo? Menos importante do que um grão de pó?
Jé sentiu dor em cada célula do seu corpo por não conseguir se ajudar? Dor por não conseguir pedir ajuda?
Já se sentiu egoísta por se sentir assim sabendo que pessoas do mundo inteiro estão passando por coisas realmente desesperadoras?
Já tentou encontrar uma razão para tudo isso e simplesmente não achou nada?
Já esperou que alguém o ajudasse depois de ler um dos seus desabafos e esse alguém nunca veio? E depois de tudo, se sentiu estúpido por esperar por um fantasma? E se sentiu imbecil por depender de alguém que não existe?

E então, se lembrou que ninguém se importa?